Sempre usamos cores com um fim, e para isso normalmente precisamos combinar cores. Há casos em que optamos por usar uma única cor, mas ainda assim, para dar ritmo a essa paleta monocromática devemos lidar com diferentes tonalidades da mesma cor. Portanto, saber escolher as cores certas e saber combinar cores são duas habilidades fundamentais para todos que trabalhamos com cores. E digo isso pela minha própria experiência.
Quando estava começando o meu caminhar no mundo dos interiores lá em 2014 e depois de já ter realizado o meu primeiro curso de cores, ou seja, já tinha um pouco de ideia do que estava fazendo, cometi o que eu considero o maior erro colorido com uma cliente.
O erro com essa cliente foi muito simples: eu escolhi a cor errada. Nesse caso era uma cor de tinta, mas poderia ter sido de sofá, ou de tapete, ou de papel de parede. Quando percebi o erro, o primeiro que senti foi vergonha. Depois arrependimento por não ter sido mais cuidadosa. E no fim, isso que parece simples, foi o que precisei para dar a segunda maior reviravolta na minha carreira profissional (a outra foi quando pedi demissão da Natura - a minha primeira formação é em administração de empresas e marketing - e sai dessa grande empresa depois de 11 anos para começar do zero como designer de interiores).
A grande reviravolta foi me tornar especialista em cores. Foi tão feio o sentimento de ter errado em algo que eu achava sabia fazer, que quando o medo de errar novamente queria tomar conta de mim, matei ele com a decisão de estudar e entender como a cor funciona para nunca mais ter que passar por isso. E foi isso que fiz e isso que me trouxe até aqui.
Vale dizer, para que história não fique inconclusa, que o erro foi resolvido e aquela cliente é uma das minhas melhores clientes até hoje. Aleluia! E também vale dizer que eu consegui o meu propósito e a maior comprovação disso foi quando ano passado, 6 anos depois, o meu projeto da loja de sapatos Luiza Perea aqui em São Paulo foi finalista do ABD Design Awards na categoria Melhor Uso da Cor. Uma alegria imensa!
Nesses seis anos que se passaram desde o maior erro até a maior conquista eu estudei muito e lancei o meu primeiro curso de cores presencial, a "Oficina da Cor". O curso me deu a possibilidade de trocar com mais de 100 alunos de diferentes perfis e atividades - designers de interiores, arquitetos, consultoras de estilo, visagistas, paisagistas, artistas plásticos, designers de estampas, quem trabalha com desenvolvimento de produtos, na grande maioria. Todas pessoas que, da mesma forma que eu faço, usam cores nos seus projetos ou no seu dia a dia. Foi uma experiência incrível e de muito crescimento.
Uma das constatações na troca com os meus alunos foi quanto o meu método de usar cores é livre e inspirador. Posso dizer que eu não fazia ideia disso até que tive contato com tantos outros profissionais. No fim é igual que com as cores: elas são relativas e portanto somente temos real noção do que estamos vendo quando comparamos uma cor com outras cores. É na comparação que as características fundamentais de subtom, luminosidade e saturação se revelam. Comigo foi igual: eu já sabia que usava cores com liberdade, mas nunca imaginei que fosse tanto e que seria tão valioso passar minha experiência e meu saber para outras pessoas. Juro. Não falo isto como falsa modéstia ou para me achar... é a mais pura verdade. E isso fez que algo que já gostava de fazer - ensinar e compartilhar - se torne tão apaixonante porque realmente posso agregar valor nas outras pessoas.
Na minha visão para "combinar cores com liberdade sem fórmulas" é preciso levar em consideração diferentes passos:
1. A liberdade vem de realizar antes um processo de autoconhecimento e saber qual é a sua relação com as cores. Todos temos cores que gostamos mais e cores que gostamos menos. Pode parecer um pouco bobo mas reconhecer tudo que você "já sabe" de cores ao seu respeito, entender onde você se sente confortável e com quais cores você encontra mais dificuldades é o início do caminho para se libertar no uso de mais cores com confiança.
Se este ponto te interessa, você pode ler algo específico neste blog post >>> 3 exercícios para quem deseja usar cores e não sabe por onde começar.
2. A liberdade vem também de reconhecer que sempre usamos cores com um fim e que essa "intenção" é que serve de guia e norte para todas as composições coloridas. Como as cores são o principal meio para transmitir emoções e sensações podemos ver isso em forma reversa e pensar: se eu sei como quero me sentir, vou escolher as cores que me façam sentir dessa forma. Como eu sempre digo: escolher cores não trata de cores mais de emoções.
Se este ponto te interessa, você pode ler algo específico neste blog post >>> O que é e como você pode criar uma paleta de cores.
3. A liberdade também vem de ter um profundo conhecimento de como a cor funciona e das possibilidades de tonalidades das diferentes cores. Eu sempre afirmo que "o sucesso de uma composição colorida depende mais da escolha das tonalidades certas do que das cores certas". Se dá muita ênfase à psicologia das cores, mas eu estou cada vez andando mais em direção à psicologia das tonalidades. É nas diferentes tonalidades - se um rosa ou um vinho, se um azul royal ou um azul céu, se um laranja salmão ou em laranja pêssego, se um verde folha ou um verde sálvia - que reside o coração das emoções e sensações que as cores transmitem.
Se este ponto te interessa, você pode ler algo específico neste blog post >>> Combinar cores não é sobre escolher cores, é sobre emoções.
4. A liberdade vem também de saber quando usar e quando largar o círculo cromático. Nestes anos todos em que estou ensinando cores não pude deixar de ver quanta ênfase se dá ao círculo cromático. E isso foi um choque para mim porque quando eu estudei cores durante minha formação como designer de interiores achava chato demais para ser verdade ter que combinar cores seguindo as harmonias do círculo cromático. Depois de estudar, pensar e repensar muito sobre isso cheguei à seguinte conclusão: o círculo cromático é importante mas ele pode ser fator de pouca criatividade se você não entende muito bem como a cor funciona. Sem contar que acho super difícil ter que referenciar todas as paletas de cores a combinações do círculo cromático. O maior argumento na minha defesa neste sentido é que a natureza, que é a maior fonte de inspiração inquestionável, muitas vezes não está nem aí nas harmonias do círculo cromático :)
Na minha opinião o círculo cromático é a principal ferramenta para entender como a cor funciona. E uma vez que você aprendeu isso, e tendo em mente todos os outros passos que estou listando caminho à liberdade para usar cores, você poderá usar cores com mais confiança, sem regras nem fórmulas prontas.
Se este ponto te interessa, você pode ler algo específico neste blog post >>> Círculo cromático: quando é bom usar e quando é bom largar.
E neste outro blog post >>> A melhor forma de usar o círculo cromático.
5. O último ponto fundamental para combinar cores em forma livre tem a ver com recuperar, regenerar e ver renascer a nossa intuição colorida. Todos estes anos estudando cores têm me demonstrado que há uma sabedoria interior que todos temos - eu tenho e você tem da mesma forma - respeito ao uso das cores que costuma ser esquecida. Quanto mais estudo mais entendo da importância de botar o coração para entrar no jogo. Não há criatividade em cores sem o reconhecimento da sua mais profunda intuição colorida.
Se este ponto te interessa, você pode ler algo específico neste blog post >>> Usar cores é mais intuição ou razão?
Abraço colorido!
Felicitas
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