Você já sabe a minha máxima "Não existe emoção sem cor". Ela reforça minha crença de que sempre usamos cores com um fim, e escolher cores tem mais a ver com emoções do que com cores. No caminho de descrever as emoções que deseja transmitir com as suas composições coloridas, pensar nas "sensações" envolvidas pode ser um bom caminho.
A cor é uma sensação visual, é a sensação da luz. Mas há uma enorme possibilidade de pensar nas cores a partir de outras sensações que não são visuais. Um exemplo claro são as chamadas "candy colors" que vem do inglês candy que significa doce. As "candy colors" normalmente são cores claras e suaves que lembram cores de balas e doces. Seja pelo peso da palavra ou por associação visual, quando penso em essas cores claras realmente penso nelas como doces. Ainda quando longe estou de ter experimentado com o paladar.
Há vários outros exemplos, um súper usado, é quando nos referimos às cores como suaves. As cores não podem ser tocadas, porém eu tenho certeza que se eu peço para você identificar cores suaves de cores duras entre uma pilha de cores diferentes, você saberá me dizer - na sua avaliação - quais são as mais suaves e quais as mais duras.
E há outro exemplo que eu uso muito, muito... quando eu digo que "as cores falam" e que é preciso saber escutar o que elas têm a dizer. Bom, você bem sabe... as cores não falam, as cores não emitem sons, elas não podem ser escutadas mas, de novo, se eu apresentar uma pilha de cores de tonalidades diferentes certamente você saberá me dizer quais têm um som mais agudo ou são mais barulhentas, de quais têm um som mais grave ou são mais silenciosas.
Mais um exemplo: quando nos referimos às cores como leves ou pesadas, ou olhamos para uma combinação e dissemos que "pesou" no look, ou "pesou" no ambiente. As cores não têm nada disso, mas usamos essas sensações que elas nos passam para fazer as nossas escolhas e dar os nossos veredictos.
Com o sentido do olfato há uma ligação ainda mais forte porque o olfato é o sentido que mais pode trazer memórias relacionadas. Portanto, pode ser que sentir um cheiro automaticamente gera uma sensação que pode ativar uma memória e ela pode vir com uma cor associada. Acredito que pode haver relações muito diretas entre cheiros e memórias afetivas que identificamos com cores concretas. Isso é algo que pode ser muito bem explorado quando você pensa e reflete na sua "História de Cor", ou seja, em todas suas experiências coloridas ao longo da sua vida e que trouxeram você até aqui.
E por que isto tudo é importante? Porque na hora de encarar a escolha das tonalidades certas para vestir, para usar na nossa casa ou para usar em um projeto podemos fazer o caminho inverso de pensar primeiro nas sensações que quero provocar e somente depois traduzir essas sensações em cores (ou em emoções primeiro e em cores depois).
E se por acaso ficou confuso vamos repassar a diferença entre emoções e sensações. As emoções são a forma em que externalizamos a resposta a estímulos externos. Algo acontece e uma emoção é gerada. Por exemplo, sinto cheiro de bolo assado, lembro da minha mãe e isso gera alegria em mim.
Sensações pela sua parte se referem ao processo pelo qual a informação do mundo é captada pelo nosso sistema sensorial e processada pelo cérebro. Os nossos sentidos (visão, tato, gosto, olfato e audição) captam o tempo todo estímulos no ambiente, essas sensações são enviadas até o cérebro e é ai que acontece a mágica da conexão com o mundo. A toda sensação segue uma percepção. É pela percepção que reconhecemos o mundo ao nosso redor e damos significado a isso (por exemplo, uma emoção é gerada).
Pensar primeiro nas sensações que desejo para depois pensar em quais cores melhor representam essas sensações pode significar uma nova visão e um sopro de criatividade no teu processo de escolher cores. No fim das contas, a nossa vida é sempre um sem-fim de sensações como bem descreve a ex-aluna da Oficina da Cor, Ana Paula:
"Gosto de pensar na minha trajetória de vida como algo colorido. Cada parte da minha vida tem cores e texturas diferentes, uma sensação que carrega cada época. Um sabor, um cheiro. Ao redor dessa sinestesia as múltiplas profissões e interesses em que me aventurei foram se formando. A fotografia, a pintura, gravura, a consultoria de estilo, o design, e mais recentemente, a perfumaria. Tudo tem cor. Quando me deparei com a Oficina da Cor "Use cor sem medo" da Felicitas em 2018 pensei num primeiro momento que pudesse ser algo redundante, hesitei. Mas confiei no meu instinto de que havia algo a mais ali e resolvi me inscrever. Percebi que a Feli falava a mesma língua que a minha, ela era sinestésica e diferentes cores e texturas compunham o clima de um ambiente assim como eu fazia com a consultoria de estilo na época. Foi a união perfeita entre teoria e prática. Conheci pessoas no curso com quem inclusive fechei parcerias de trabalho e utilizei os conhecimentos da oficina para basear uma das minhas aulas como professora de Linguagens Criativas na pós-graduação de Criatividade e Ambiente Complexo da ESPM em 2020. Dois anos depois, eu ainda percebo o conteúdo e as texturas ressoando em mim. É uma experiência sensorial e técnica multidisciplinar imperdível para quem trabalha com arte, criatividade ou qualquer tipo de linguagem sinestésica. - Ana Paula Rizzo,
Ainda quando eu não sou na prática uma sinesteta (aqueles que gozam de uma condição neurológica pela qual o estímulo de um sentido causa reações em outro, gerando uma mistura de sensações e fazendo com que uma pessoa possa "ouvir" cores, por exemplo) sim gosto de pensar no sabor e cheiro das cores, em como as cores "falam" e como elas são ao ser tocadas.
Exemplo disso é quando escrevi sobre o "Despertar os sentidos para as cores" no qual relato a experiência de ouvir a mesma música em duas versões diferentes, uma versão original cantada por Alicia Keys e uma versão cover de Scary Pockets, e imagino paletas de cores diferentes a partir de cada versão. Diferentes ritmos, diferentes sons, evocam em mim diferentes cores e diferentes composições coloridas. Eu tenho certeza que o mesmo deve acontecer com você :)
Na minha forma de enxergar cores acredito fortemente que é preciso se reconectar com os sentidos para uma melhor expressão de nós mesmos, da nossa mensagem, do que desejamos comunicar. Menos olhar para fora, mais olhar para dentro. No fim, entre tantas tonalidades possíveis e na busca das tonalidades "certas" é importante essa conexão para poder balizar as nossas escolhas. Expandir as sensações das cores além da experiência visual, enriquecer a nossa experiência trazendo outros sentidos à tona pode ser realmente o caminho para descobrir novas oportunidades. Espero te encorajar a fazer o mesmo :)
Abraço colorido! Felicitas :)