Falar de psicologia da cor aplicada está no centro da cena desde sempre, mas eu tendo a pensar que sua importância é cada vez crescente. Em um mundo que é cada vez mais "visual", não somente empresas buscam expressar seus valores e personalidade em marcas, logos e produtos; mas também pessoas e empreendedores buscam essa conexão primeiro com eles mesmos e depois com os outros usando cores como ferramenta.
Mas como chegamos até aqui? Desde o homem primitivo até Mark Rothko, olha o curioso caminho, sob minha perspectiva e em grandes saltos, de como nós humanos chegamos a entender que não existe emoção sem cor (nem cor sem emoção).
Para o homem primitivo (esta pintura data de 30.000 anos AC) as cores eram limitadas aos materiais disponíveis (carvão, argila, óxido, cal). Naqueles anos a cor não era importante, mas o material. Não há nome para as cores, mas para os materiais. A arte era utilitária e não abstrata. Na foto da caverna de Chauvet no sul da França podemos ver as cores usadas na paleta conhecida mais antiga da humanidade: vermelho, preto, amarelo, branco e ocre.
Na Idade Média, entre os séculos V e XV, a arte era irreal devido à igreja que era muito clara respeito a como devia ser feita cada obra. Havia uma fórmula a seguir, um altar devia ser igual ao outro, o artesão não devia ser original ou deslumbrar com a sua habilidade. A arte era para educar e portanto a escolha das cores também era codificada: vermelho para significar a vitória, a morte e a nobreza; azul para o mistério; verde para a vida; branco para a pureza; mas a cor mais importante era o ouro, folhas de ouro usadas diretamente nas obras para iluminar.
Finalmente temos uma ruptura em 1810 quando Goethe escreve "A Doutrina das cores" e nele diz: "...cada cor produz um efeito específico sobre o homem ao revelar sua essência tanto para o olho quanto para o espírito. Conclui-se dai que as cores podem ser utilizadas para certos fins sensíveis, morais e estéticos." Ou seja, finalmente Goethe libertou todo o potencial emocional das cores para sempre.
Outro momento que eu considero mega importante para o mundo da cor é quando em 1841 o retratista americano John Rand inventa o tubo de tinta. Até é então as tintas eram guardadas em tripas de porco que eram muito difíceis de carregar e eram quase impossíveis de fechar depois de abertas (dito de uma forma muito simples). Isso fazia com que os artistas usassem uma cor de cada vez para diminuir o desperdício pintando por áreas de cor, mas ainda pior do que isso... eles pintavam dentro do ateliê, a portas fechadas. Os artistas visitavam os locais que queriam retratar, faziam esboços e depois, portas adentro, pintavam de memória.
Então John Rand deu aos impressionistas a liberdade que precisavam para pintar ao ar livre e para pintar o que viam, enquanto viam, da forma que estavam vendo, com pinceladas rápidas, direto do tubo. De repente os impressionistas podiam capturar a vida e a luz em todo o seu colorido, como se fosse uma fotografia instantânea. Mas o mais interessante é que eles não estavam pintando somente o que estavam vendo (como teriam feito os Renascentistas), estavam pintando como estavam vendo, sua percepção da cor.
Mas, como as cores sempre são comparativas, quando no fim do século XIX aparecem os fauvistas, as cores luminosas dos impressionistas começaram a aparecer mansas do lado da expressividade de artistas como Matisse e Gauguin. Pela primeira vez desde a Idade Média estes artistas valoravam a cor pelo seu poder para evocar sentimentos e criar harmonias. As cores não são mais imitativas, mas expressivas. As cores começam a ser usadas mais livremente, menos literalmente. As cores já não são tão previsíveis, mas emocionais. Finalmente as cores são realmente liberadas.
Nos anos 40 o epicentro da arte passa de Paris para Nova York e os expressionistas abstratos como Yves Klein ou Mark Rothko, fazem que a cor seja grande, muito grande. Assim a cor agora se liberta do conteúdo narrativo e se torna o sujeito da obra. Em palavras do próprio Mark Rothko "Não sou um abstracionista. Não estou interessado na relação da cor ou forma ou nada disso. Estou interessado somente em expressar emoções humanas básicas: tragédia, êxtase, desgraça e mais"
Eu sei que você já sabia do poder transformador das cores, o que eu gostaria de acrescentar a isso é "Faça as cores trabalhar para e por você". Antes de pensar em cores pontuais, pense em quais emoções e sensações você quer trazer para o seu projeto. É energia, suavidade, vibração, paz, agito, exotismo...? Pensar desta forma abrirá novas possibilidades e as escolhas de cores serão uma consequência do mood geral que você quer criar.
E lembra sempre: não existe emoção sem cor, nem cor sem emoção.
Abraço colorido!
Felicitas