Várias vezes me perguntaram como me tornei especialista em cores. Vou ser sincera: eu sei como eu fiz, mas não sei se é a única ou a melhor forma. Só sei que funcionou para mim. E olha só, eu não tenho talentos especiais, não sabia que queria fazer isso desde pequena e não venho de uma família de artistas.
Descobri que queria trabalhar com cores, quando fui convidada para a apresentação do Color Futures 2015 da Coral. Era 2014, eu estava começando como designer de interiores e escrevia um blog onde, toda semana, postava uma paleta de cores inspirada em uma imagem da natureza.
Quando vi à Heleen van Gent, Diretora do Centro de Estética Global da AkzoNobel, apresentar a cor Sombra de Cedro como a cor do ano 2015 da Coral, soube que queria ser especialista em cores.
Hoje, 10 anos depois, trabalho como Color Designer. Sou fundadora do Cores Lovers, um estúdio dedicado à cor, e da comunidade Somos CoresLovers. Também sou co-fundadora do ColorNEXT, um bureau de inteligência cromática.
Foram muitos aprendizados valiosos ao longo desses anos para me tornar especialista em cores. Vou destacar os 7 mais importantes, já que faz 7 anos que dou aulas para profissionais que trabalham com cores e porque o arco-íris, com suas 7 cores, sempre nos inspira :) Por estes dias o número 7 se tornou meu número mágico.
1. O medo de usar cores vem do desconhecimento.
No começo da minha carreira como designer de interiores, cometi um grande erro: escolhi a cor errada e pintei com ela toda a sala de uma cliente. Não foi um descuido, eu realmente escolhi a cor errada.
Quando dei conta do meu erro fiquei terrivelmente envergonhada de ter que assumir frente a minha cliente que tinha errado. Pior foi a dor quando paguei do meu próprio bolso a nova tinta na nova cor e a mão de obra dos pintores por conta do retrabalho. Foi então que senti pela primeira vez medo de usar cores.
Até então, eu me sentia confiante, acreditando que escolher cores era simples e intuitivo. Esse erro me mostrou que a cor é um elemento complexo e variável. Ela muda com a luz e o contexto, e cada pessoa a percebe de maneira única. Para superar esse medo, comecei a estudar tudo sobre cores.
A confiança voltou quando entendi claramente como as cores funcionam, como podem "enganar" nossos sentidos e como prever essas mudanças para fazer melhores escolhas antes que seja tarde demais.
2. Cores são mais do que beleza, são comunicação.
Todas concordamos que as cores são lindas, mas escolher cores bonitas não é o mesmo que escolher as cores certas. Aprendi isso de várias maneiras ao longo do tempo. Nos meus primeiros projetos de interiores, tive dificuldade em escolher as cores certas e me sentia desconfortável decidindo quais cores propor para as casas dos clientes.
Isso me fez perceber que precisava de um processo de briefing mais detalhado para escolher cores que atendam às necessidades dos clientes, não apenas as que pareciam bonitas para mim. Entendi que as cores certas são aquelas que refletem o desejo dos meus clientes. Ou seja, as cores são um meio, não um fim.
Uma segunda experiência me mostrou que as cores são muito mais do que apenas beleza. No projeto da loja de sapatos Luiza Perea, não era só sobre escolher cores bonitas, mas sobre escolher cores que, junto com os materiais, texturas e formas, transmitissem a personalidade da marca. O resultado foi excelente: 6 anos depois, a loja continua atual e as cores ainda são relevantes porque fazem sentido para a marca e contam uma história que eu ajudei a traduzir em cores.
3. As tonalidades são mais importantes do que as cores.
Este aprendizado é simples e poderoso: o desafio não é escolher entre vermelho e verde, mas sim escolher qual tom de vermelho e qual tom de verde é o certo. A força de uma combinação não está apenas nas cores, mas nas tonalidades. Para isso, é preciso entender perfeitamente as dimensões de matiz, luminosidade, saturação e temperatura das cores.
4. Em uma combinação de cores, o conjunto é mais importante do que as partes.
"Use rosa para feminilidade, vermelho para força e amarelo para criatividade." Talvez você já tenha ouvido essas dicas, e eu sempre fico surpresa com isso.
Embora frequentemente estudemos o que cada cor significa individualmente —como vermelho para paixão, preto para elegância, verde para natureza— essa abordagem não reflete como as cores funcionam em uma combinação. Primeiro, como mencionei antes, dizer apenas "vermelho" é vago, pois existem muitos tons de vermelho e reduzi-los a um só é limitante.
Além disso, uma combinação de cores depende do conjunto, de como todas as cores e tonalidades interagem. Por exemplo, um tom de vermelho combinado com azul índigo transmite uma mensagem diferente do mesmo tom de vermelho combinado com lilás. As cores mudam com cada nova interação e também com o contexto em que são usadas.
5. Sentir e ver cores é algo subjetivo.
No início da minha formação em cores com a professora americana Kate Smith, percebi que não gostava de tons claros de violeta. Apenas olhar para lilás ou lavanda me causava sentimentos negativos e tristeza.
Não sabia o motivo dessa aversão até anos depois, quando, ao rever o álbum da minha festa de 15 anos, percebi que meu vestido era lilás. Isso explicou tudo! Eu não gostei da minha festa e tive uma adolescência difícil, o que esclareceu os sentimentos negativos associados a essas cores.
Entendi que todos nós temos uma história de cor que influencia como sentimos as cores. Ou seja o "sentir" das cores é subjetivo. Com o tempo, percebi que o ato de "ver" cores também é subjetivo. Cada pessoa vê o que conhece, o que é familiar e, no final, o que quer ver.
Para se tornar uma especialista em cores, é essencial buscar novas referências e expandir constantemente o repertório. Isso significa estar sempre observando mais cores, vendo como as mesmas cores são usadas de maneiras diferentes e explorando novas combinações. Sem essa prática contínua, você pode ficar estagnada e não evoluir.
6. Para se destacar, é preciso unir teoria das cores com intuição.
O melhor jeito de entender esse aprendizado é comparar o papel tradicional do círculo cromático com o papel que ele realmente deveria ter. Quando estudei design de interiores, toda a teoria de combinação de cores girava em torno do círculo cromático. A ideia era girar o círculo para descobrir cores complementares, análogas, tríades e assim por diante.
O resultado? Eu e meus colegas acabávamos com projetos coloridos semelhantes. Domínio do círculo, 1000 pontos; criatividade, zero.
E olha só, eu deixei um trabalho seguro e bem remunerado na Natura, onde tinha 11 anos de experiência e um cargo de gerência sênior, para realizar uma atividade mais criativa. Esse não poderia ser o meu fim.
Iniciei uma jornada intensa de autoconhecimento e descoberta para liberar minha criatividade usando minha intuição colorida. Hoje, entendo que para se destacar é essencial combinar a teoria das cores com a intuição. A teoria sozinha não é suficiente, e a intuição não resolve todos os desafios coloridos. Pelo contrário, ambos se fortalecem quando usados em conjunto.
7. A prática leva à especialização.
Se você quisesse ser maratonista, o que faria? Faria uma corrida por mês ou seguiria um plano de treinos desafiador que te faz avançar semana a semana em busca do seu objetivo?
Se você quisesse ser pianista, o que faria? Tocaria piano uma vez por semana ou praticaria 3 a 4 vezes por semana, enfrentando músicas cada vez mais desafiadoras?
Se você quisesse aprender uma nova receita para impressionar suas amigas, o que faria? Tentaria uma vez e, se não desse certo, desistiria? Ou tentaria várias vezes até ficar realmente bom na receita?
Assim como é essencial treinar para se tornar uma maratonista, uma pianista ou uma expert em receitas, o caminho para se tornar uma especialista em cores também requer prática e treinamento contínuos.
Esses são 7 aprendizados valiosos que adquiri ao longo da minha jornada para me especializar em cores nos últimos 10 anos. E eu posso ajudar você a trilhar sua própria Jornada da Cor.
Nos vemos daqui 7 dias.
Abraço colorido, Felicitas