Será que acertar a cor em uma combinação de cores é um giro de sorte como quando buscamos acertar em 4, 5 ou 6 números da loteria? Ou podemos "fazer certo" logo do começo e assim acertar em todas as cores fazendo que as nossas combinações se destaquem ao tempo que comunicam o que devem comunicar?
Se você me conhece um pouco deve já saber a minha resposta: faço de tudo para fazer certo logo do começo. Não acredito em giro de sorte quando se trata de escolher cores. Quando fiz isso me dei mal. Tão mal que me custou dinheiro do meu bolso para consertar a cor da sala da casa da minha cliente Natalia. Mas isso não foi o pior. A vergonha que senti de ter errado tão feio foi o pior.
De lá para cá aprendi muito, estudando e também na prática fazendo projetos coloridos, então vou resumir em 5 dicas bem legais o que faço até hoje para acertar (no sentido de "fazer certo") as cores nas minhas combinações:
1. Antes de sair escolhendo cores busco entender perfeitamente o que minha combinação vai comunicar e entendo o contexto no qual essa combinação de cores se insere. Como eu sou designer de interiores e faço na sua maioria projetos residenciais isso quer dizer que vou conhecer as pessoas que moram nessa casa, vou entender seus gostos e preferências, vou entender como os ambientes são usados, vou perguntar quais são seus sonhos e desejos com a reforma. Nos meus projetos "contexto" quer dizer entender traços de cultura muitos particulares dos meus clientes, entender o perfil de consumo da família (se prefere mobília de design assinada, por exemplo) e analisar o ciclo de vida do que iremos colorir (sofás e tapetes têm ciclo de vida mais longo do que paredes coloridas, por exemplo). Se você faz outro tipo de projetos veja formas de responder a estas duas perguntas:
Qual é o objetivo da combinação de cores? É vender um produto, construir uma marca, comunicar uma identidade, gerar impacto? Estes seriam somente alguns exemplos de objetivos, você pode trazer outros.
Em qual contexto a combinação se insere? Por "contexto" estou me referindo a traços culturais presentes no projeto, perfil do consumidor, categoria de produto ou serviço, ciclo de vida do produto ou serviço.
2. Quando estou em "modo on" de projeto me transformo em uma esponja que absorve tudo que está na minha volta. Sou muito observadora e muito boa ouvinte. Invisto tempo de qualidade em conhecer meus clientes e busco formas de entender seus gostos e preferências de cores. Mais trabalho com cores e mais entendo que escolher as cores certas e combinar as cores certas tem a ver mais com emoções do que com cores. E essas emoções estão nas pessoas, estão nos seus sonhos e desejos, nas suas histórias de vidas, nas suas vivências coloridas.
3. Em alguns projetos, quando sinto que é necessário, testo uma direção de cor antes de apresentar um esquema de cores proposto. Com o tempo entendi que não somente eu preciso escolher as cores certas mas preciso fazer com que meu cliente sinta que são as cores certas. Não gosto de pressionar meus clientes a ir por um caminho colorido ou outro. Pelo contrário, eles precisam viver o processo como algo que lhes é próprio. E por outro lado para mim "acertar" a cor nas minhas combinações implica em apresentar um único esquema de cores para o meu cliente. Aquele que eu considero o melhor. Não me sinto confortável de dizer para meu cliente "Temos esta opção, e esta opção, e esta opção... você escolhe". Porque se for assim: para que ele me contratou? Se eu fizer isso na minha opinião estou transferindo para o meu cliente a minha própria insegurança de escolher.
Por isso, quando sinto que é necessário, testo caminhos possíveis de paletas de cores em uma fase inicial de projeto. Depois dessas conversas exploratórias posso sim me debruçar a definir o esquema de cores certo.
Na prática, o que faço é apresentar diferentes paletas de cores e vamos conversando. Muitas vezes estas paletas são algumas das que eu já tenho guardadas no meu inventário de paletas. Como estas por exemplo:
4. Me esforço por escolher cores fora do computador. Ou seja, trabalhar com cores reais. Talvez esta seja a melhor forma de acertar nas cores: não confiar nas cores que aparecem no computador. Eu sei que existem renderizações muito profissionais que até parecem fotos verdadeiras. Mas ainda assim, sou fã de escolher cores com amostras reais. No meu mundo são cores de tapetas, cortinas, estofados, tintas, etc. Pode ser que no teu mundo colorido se trata de outros objetos e amostras, e tudo bem. O que importa é poder ver as cores à luz do dia e poder comparar e olhar "ao vivo" as relações entre elas.
5. Pratico o exercício do "E se...". Esta é também uma das partes mas divertidas de todo projeto que é quando estou calibrando tonalidades e pensando em proporções de cores. Consiste em fazer algo muito simples como me perguntar "E se clarear esta cor?", "E se escurecer esta outra cor?", "E se eliminar esta cor?", "E se trocar este matiz por este outro?"... e assim vai. Deu para entender o que faço? É colocar em dúvida o que eu mesma estou criando e abrir o caminho para novas possibilidades.
Aí estão! 5 dicas para ajudar na hora de "acertar" as cores em uma combinação. Espero tenham trazido bons insights para continuar melhorando sempre no mundo das cores.
Nos vemos logo mais em 7 dias!
Abraço colorido.
Felicitas