“Na realidade trabalha-se com poucas cores. O que dá a ilusão do seu numero é serem postas no seu justo lugar” Pablo Picasso (1881-1973)
Artistas de todos os tempos, tanto figurativos quanto abstratos, têm usado a cor não somente pela sua beleza, mas para transmitir emoções e estados de espírito. Muitas obras, que vemos em museus, em livros ou cursos de arte, acabam ficando na nossa memória pela sua expressividade e porque são felizes em tocar o nosso coração. Quando trabalhamos para um cliente e escolhemos cores (seja você designer de interiores como eu, arquiteto, designer gráfico, vitrinista…) também queremos tocar o coração e usar a cor de uma forma inspiradora. E ainda, mesmo sem se tratar de um projeto formal, sempre queremos usar cores de uma forma harmoniosa e que sirva para o fim que temos em mente. Como usar cor como um artista não precisa ser um segredo. Venha comigo que vou te mostrar lindas obras com boas dicas de como usar cores.
A força das cores complementares: na obra The Red Boats at Argenteuil (1875) de Claude Monet (1840-1926) vemos como as cores complementares ficam mais vibrantes quando colocadas lado a lado. Nela os barcos vermelho-alaranjados e seus reflexos contrastam com as algas verdes brilhantes. Na obra The Blue Veil (1898) de Edmund Charles Tarbell (1862-1938) pintor impressionista americano, o contraste do violeta com o amarelo é marcado pela suavidade e a transparência sugestiva do véu.
Cores quentes que avançam e cores frias que retrocedem: nesta obra de Paul Cezanne (1839-1906) que data por volta de 1879, as frutas aparecem primeiro, avançam puxadas pelas cores calorosas que captam o olhar em forma imediata. Os bowls, a toalha de mesa e tudo que resta na cena, é levado para trás usando cores azuladas e frias, que acentuam a distância com as cores quentes das frutas.
Cores e emoções - Paz: não existe cor sem emoção, e os artistas desde sempre sabem isso. Há inúmeras obras que fazem uso da cor para nos transmitir um sentimento ou uma sensação, de uma forma muito clara e direta. Gustav Klimt (1862-1918) nos deixa um profundo sentimento de paz na obra Island in the Attersse (1902). Conhecemos mais a Klimt pelos retratos de belas mulheres finamente ornamentadas, mas durante 16 anos da vida dele (1900-1916) visitou a região de Salzkammergut nos alpes e desses anos restam muitas obras de paisagens. Podemos imaginar que certamente eram temporadas mais do que deliciosas para fazer tão belo registro.
Cores e emoções - Alegria: os Girassóis (1888) foi pintada durante um raro período do optimismo na vida de Vincent Van Gogh (1853-1890). Enquanto esperava a chegada de seu amigo Paul Gauguin, Van Gogh sonhava com iniciar uma comunidade de artistas junto ao seu mentor, e pintou todos estes girassóis na sua cor favorita criando uma energética obra que irradia alegria. As obras da Mark Rothko (1903-1970) em cores amarelo e laranja são prova de como uma boa dose de cor pode mudar o estado de espírito e inspirar, neste caso, sentimentos de alegria e energia renovada.
Cores e emoções - Tristeza: a morte do amigo Carlos Casagemas afetou Pablo Picasso (1881-1973) de tal forma que serviu de catalisador para uma série de obras em cores frias: azuis melancólicos, cinzas sombrios e verdes doentios. O período azul de Picasso é um amostra clara de como a cor pode também transmitir tristeza, tormento, dor, desolação. As obras Woman with folded arms (1901-1902) e Portrait of Suzanne Bloch (1904), esta última no MASP - Museu de Arte de São Paulo, são exemplos deste período azul.
Contraste multicolorido: o que não faltam são obras multicoloridas que celebram a vida, inspiram movimento e excitação. Os artistas do fauvismo são excelente exemplos, porque além de usar cores contrastantes, não se prendiam às cores reais, mas aos sentimentos que queriam transmitir, nos mostrando um enorme sentimento de liberdade criativa.
Na obra The Pool of London (1906), André Derain (1880-1954) usa cores frias e quentes em contraste para passar uma ideia de movimento e rebuliço. Henri Matisse (1869-1954) um dos artistas mais revolucionários no uso da cor pintou View of Collioure (~1905) irradiando tanto alegria de viver, quanto alegria de pintar.
Serenidade monocromática: mas também há lugar para combinações apagadas e monocromáticas. O artista holandês Vilhelm Hammershoi (1864-1916) pinta obras usando uma paleta muito limitada de marrons, cinzas e baixos contrastes. Como na obra Interior in Strandgade, Sunlight on the floor (1901) que inspira serenidade, imutabilidade, quietude.
Depois deste mini passeio pela história da arte e da cor, vale lembrar que usar a cor no seu justo lugar, como diz Picasso, não é algo reservado somente a artistas, mas a todos que apreciamos e gostamos da cor. E que, com carinho e dedicação, podemos aprender tudo que o mundo da cor tem para nos ensinar.
Boa semana colorida,
Felicitas :)